IA pode aprimorar e agilizar o diagnóstico do câncer de mama
O INCA estima que no triênio de 2023 a 2025 serão identificados cerca de 74 mil novos casos do câncer de mama por ano no Brasil. Neste cenário, especialistas apontam que o uso de tecnologias como a Inteligência Artificial (IA) podem contribuir para aprimorar e agilizar o diagnóstico.
Marina De Brot, médica patologista e secretária-geral da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), explica que o primeiro sinal do câncer de mama pode ser detectado a partir da mamografia e/ou ultrassom de mamas pelo médico radiologista. Diante de alterações suspeitas, uma biópsia será solicitada pelo médico mastologista.
A biópsia representa fragmentos de tecido do tumor, o qual será avaliado pelo médico patologista, que então confirmará o diagnóstico do câncer de mama, além de determinar seu tipo, grau e características moleculares. Todos estes parâmetros são necessários para a definição do tratamento mais adequado para cada paciente.
“Hoje já contamos com a Patologia Digital através da qual conseguimos escanear e digitalizar as lâminas contendo fragmentos do tecido, produzindo um arquivo digital deste material ao invés de examiná-lo ao microscópio. Assim, podemos acessar o caso pela tela do computador para fazer a avaliação, inclusive à distância por sistemas on-line”, diz Marina, que também é patologista titular do A.C.Camargo Cancer Center, um dos centros de referência no diagnóstico e tratamento do câncer no Brasil.
Após a digitalização das lâminas, os patologistas podem ainda utilizar algoritmos de IA que tornam o processo diagnóstico mais eficiente e, juntamente com a análise pelo patologista, mais preciso. Alguns já estão disponíveis para uso clínico de rotina, com determinadas aplicações.
“Por exemplo, a IA possibilita examinar a porcentagem de células neoplásicas que apresentam expressão de alguns biomarcadores comuns no câncer de mama. Existem algoritmos específicos para cada biomarcador, que rastreiam a lâmina digitalizada. Também há algoritmos para auxiliar na detecção microscópica de metástases linfonodais do câncer de mama, quando o mesmo se espalhou para a axila. Estas ferramentas tornam o trabalho mais eficaz e rápido, com aumento da acurácia”, complementa.
Debate político – Em janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou orientações de ética e governança para o uso da tecnologia na Saúde em que reconhece possíveis riscos, especificando-lhes, mas informa que a IA já é utilizada no diagnóstico de doenças como o câncer, podendo ainda ajudar em decisões terapêuticas difíceis e na detecção de erros clínicos.
No Brasil, atualmente, está em tramitação na Comissão Temporária Interna sobre Inteligência Artificial no Brasil, do Senado Federal, o Projeto de Lei (PL) nº 2338/2023, que dispõe sobre o uso de IA no País. Em seu capítulo sobre os riscos atribuídos à IA, o documento considera de alto risco aplicações na Saúde, inclusive as destinadas a auxiliar diagnósticos e procedimentos médicos, não apontando possibilidades de uso no setor.
Marina detalha que para que a IA seja utilizada na Saúde, é muito importante a sua regulamentação, tal como acontece em outros países como os Estados Unidos. Além disso, analistas pontuam, entre outros aspectos, a necessidade de uma lei que, embora referenciada na recente lei europeia, atenda aos interesses locais, que torne essa tecnologia democrática à população e que possibilite o acesso a direitos.
Para o presidente da SBP, Clóvis Klock, os patologistas não devem ter medo dessas tecnologias que vêm para ajudar no dia a dia: “A inteligência artificial nada mais é que o aumento da inteligência desses profissionais no diagnóstico de doenças como o câncer. Afinal, nós teremos acesso a algoritmos que vão ser utilizados e ajudar no cotidiano, deixando a máquina fazer algumas atividades repetitivas”, conclui.
FONTE: Medicina S.A