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CREMERJ alerta para aumento de casos de coqueluche

Em junho deste ano, o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica alertando para o surto global de coqueluche. São Paulo e Minas Gerais já vivem surtos da doença. No começo deste mês, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) emitiu um alerta sobre o preocupante aumento na incidência de casos de coqueluche no estado. Até julho deste ano, os casos confirmados já ultrapassaram em mais de 300% o número registrado no mesmo período do ano passado, totalizando 34 casos confirmados apenas em 2024, enquanto em todo ano de 2023 foram apenas oito casos.

“A coqueluche, geralmente, tem surtos a cada cinco anos, o último surto no Brasil foi de 2013 a 2015. Esse fato somado a baixa cobertura vacinal, principalmente em crianças que estão no primeiro ano de vida, é o que tem causado esse aumento do número de casos”, explica Isabella Ballalai, coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) sobre Vacinas e Imunizações do CREMERJ e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Popularmente conhecida como tosse comprida, a coqueluche é uma infecção respiratória causada pela bactéria Bordetella Pertussis. Caracteriza-se por crises intensas de tosse seca e pode afetar a traqueia e os brônquios causando dispnéia.

É transmitida principalmente através de gotículas de saliva e secreções respiratórias, o que ocorre principalmente pelo contato direto com pessoas doentes ou infectadas e assintomáticas. Adultos acabam sendo as principais fontes de infecção para bebê.

“No Brasil e na maioria dos países, a vacinação de adolescentes e adultos contra a coqueluche não é rotina, além disso, mesmo quem teve a doença pode adoecer novamente, portanto, aqueles não vacinados após os quatro anos de idade são suscetíveis e podem transmitir a doença, sem saber”, alerta Isabella.

A prevenção da coqueluche é fundamentalmente baseada na vacinação, começando com a imunização de crianças. As vacinas pentavalente e hexavalente ou pentavalente acelulares, que protegem da coqueluche entre outras infecções, fazem parte do calendário básico para o primeiro ano de vida – três doses a partir dos dois meses de idade – e só podem ser administradas até cinco anos de idade. A vacinação de gestantes é fundamental para a proteção do bebê em seus primeiros meses de vida, grupo que, em outros surtos da doença, representaram 100% dos óbitos, mulheres que estejam no puerpério e que não foram vacinadas na gestação e profissionais de saúde também devem ser vacinados, para evitar que ocorra a transmissão da bactéria para as crianças. No entanto, infelizmente, a cobertura vacinal nessas categorias está longe de atingir as metas estabelecidas para 2023, conforme relatado pela SES-RJ.

“A principal barreira para a adesão vacinal é a desinformação, tanto entre as famílias quanto entre os profissionais de saúde. O desconhecimento de que a coqueluche pode ser fatal para os vulneráveis faz com que muitas pessoas subestimem sua importância”, explicou Katia Telles Nogueira, diretora do CREMERJ responsável pelo GT e doutora em epidemiologia pelo Instituto de Medicina Social (UERJ).

O diagnóstico da coqueluche em estágios iniciais é difícil, uma vez que os sintomas podem parecer como resfriados ou até mesmo outras doenças respiratórias. Por isso, a doença representa um perigo significativo, especialmente para bebês não vacinados, pois suas defesas imunológicas ainda estão em desenvolvimento. Por essa razão, é essencial que a prevenção comece ainda na gestação.

“Dentre as vacinas que devem ser administradas durante a gestação, está a vacina DTpa, que protege a gestante e o recém-nascido, nos primeiros meses de vida, até que o bebê tome as doses da vacina pentavalente”, destaca a pediatra Katia.

No calendário do Programa Nacional de Imunizações (PNI), não há a recomendação da vacina coqueluche após os cinco anos de idade, exceto para os grupos citados, isso significa que adolescentes e adultos podem se infectar, já que ter tido a doença não protege para toda a vida. Em situações de surto de coqueluche, quando a circulação da bactéria aumenta, o risco de adultos serem infectados também aumenta e, dessa forma, a possibilidade de transmitirem a doença para bebês não completamente vacinados, grupo etário de maior risco de desenvolver quadros graves, que podem ser fatais.

A prevenção através da vacinação continua a ser a estratégia mais eficaz contra a coqueluche, porém, medidas simples como higiene respiratória e uso de máscaras ao apresentar sintomas respiratórios são fundamentais, dada a alta transmissibilidade da doença.